quarta-feira, 4 de abril de 2012

ENTRE RIO BRANCO E SENA MADUREIRA.


Entre Rio Branco, capital do Acre, e Sena Madureira, região do Yacco do estado, percorremos aproximadamente 140 Km na tarde deste domingo, 01 de abril. Durante todo o percurso, testemunhamos impressionados, de ambos os lados da rodovia BR 364, a ocupação territorial absoluta tomada por grandes rebanhos de gado bovino pastando e pisando a terra já amplamente degradada em latifúndios a perder de vista. Derramou-se ali, junto com a lama que assoreia os rios e igarapés desprotegidos, a imagem de que este é um estado que preza pela defesa do meio ambiente.

Em Sena Madureira, já ao anoitecer, visitamos lideranças do povo Jaminawa que vivem na área urbana do município. Percorrendo vielas estreitas e ainda muito úmidas, num amontoado de pequenas casas e muitos casebres, nas margens alagáveis e recentemente alagadas do Rio Yacco, testemunhamos comovidos a presença de um povo indígena vivendo sem terra, em condições insalubres. Ao longo do caminho, espremidos nos estreitos trilhos que rasgam a vila, dezenas de crianças e jovens conversavam entre si na língua materna pertencente ao do tronco lingüístico Pano.

Impossível não estabelecer, de imediato, um paralelo estarrecedor. Ao longo de 140 km, a terra aberta estendendo-se ao longo das planícies até a vista alcançar o horizonte toda ocupada e sofrendo as pisadas doloridas de bois gordos, bem saciados. Em Sena Madureira, um povo vivendo sem nenhum palmo de terra onde possa plantar o próprio e digno sustento, dependente da mendicância e da busca de alimentos nas lixeiras da cidade para sobreviver e vendo suas crianças famintas sendo, a todo o momento, enxotados por comerciantes convictos de que estariam tratando com seres inferiores a si próprios.

Como não sentir-se profundamente indignado e revoltado diante de uma realidade tão dura e injusta? Com tanta terra em tão poucas mãos, como aceitar calado que um povo viva sem terra em condição tão degradante e desumana?

Evidentemente que não podemos compactuar, com o silêncio e a inoperância, frente a mais essa situação lastimável no Brasil. Um povo, em qualquer parte do mundo, tem direito à terra e ao território necessários à sobrevivência física e cultural de todos os seus membros com a dignidade de seres humanos que são.

Nada menos que isso é aceitável. Terra é território para os Jaminawa no estado do Acre.


Cleber César Buzatto
Secretário Executivo do Conselho Indigenista Missionário - Cimi


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