quarta-feira, 8 de junho de 2011

Antonio Palocci e sua tragédia anunciada

Antonio Palocci renunciou no início da noite da terça sete de junho. Isto marca, no meu entender, mais um ato de tragédia política anunciada. A crítica aqui não segue o sentido já deveras analisado, a do suposto tráfico de influência que resultara em enriquecimento acelerado concomitante a certeza de posição-chave a ser ocupada no governo então recém eleito.
Laudas já sem fim vêm sendo escritas a respeito. Falta aproximar do problema através da ótica da cultura política.
A pergunta central é: - Quais os caminhos que levam um ex-militante socialista a tornar-se consultor de empresas enquanto exerce mandato de representação popular?
Palocci até agora foi o homem do quase. Fora uma estrela em ascensão no então maior partido de esquerda da América Latina e que, através de processo de lapidação interna e giros à direita, foi criando sua própria vocação ao poder de Estado no Brasil.
Neste caminho o médico sanitarista de Ribeirão Preto atravessou etapas importantes.
Originário da corrente estudantil Liberdade e Luta (OSI-Libelu), migrou para a Articulação (hoje parte do Campo Majoritário), onde o universo da política já era marcado pelo pragmatismo tendo limites nas possibilidades já existentes.
É neste cenário, em 1988, que Palocci deixa a militância sindical como servidor estadual da saúde e começa a disputar cargos públicos, como parlamentar e no executivo de seu município.
Fazer o que se aplica como visivelmente possível dentro de uma determinada circunstância é a definição do conceito de possibilismo. Para o sucesso, torna-se necessário realizar alianças políticas no mínimo heterodoxas e o reconhecimento – através de negociação permanente – a todo tipo de agente social, incluindo agentes econômicos com poder e envergadura.
Tais ideias, somadas às práticas tradicionais da política brasileira, não podiam dar em outra coisa.
Os ex-socialistas do PT associaram-se aos patrimonialistas, ex-membros da Arena e, optaram por favorecer ao capital financeiro através do modelo de financiamento do Estado, com giro rápido e endividamento público.
A opção pelo desenvolvimento capitalista com inclusão sem rompimento cobrara seu preço na fatura da “nova velha” cultura política advinda para alguns dirigentes petistas.
Ao incorporarem um comportamento semelhante aos membros das elites anteriores, tornam-se capazes de executar sua fórmula de governo proposta, mas se deixaram levar na tênue fronteira entre o público e o privado.
Antonio Palocci materializa este triste exemplo.

Bruno Lima Rocha é cientista político

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